A ILUSÃO DO SHOPPING

Dez da noite, e os trabalhadores e trabalhadoras de um shopping indo para casa depois de mais de 12 horas de pura exploração. Não podem nem ir ao banheiro fazer as necessidades, que o gerente ou o supervisor fica atrás, por causa do grande movimento que é nos finais de ano.
Eles têm que ser brancos e bonitos, não podem ter a pele mesmo que pouco escura, os burgueses não gostam, ou, se for negro, tem que ser muito bonitos, tipo deuses de mármore negros. Além do mais, eles precisam sentir orgulho de trabalhar num lugar onde a classe alta vai sempre.
E a verdade é que esses trabalhadores dos shoppings se sentem mesmo melhores que os outros trabalhadores, apesar de serem os mais explorados em meio àquele mar de lojas. Têm orgulho de pertencer ao uma loja daquelas, ou a algum empreendimento daqueles. Prestem atenção e vejam como eles olham um pobre, ou alguém mal vestido chegando para comprar em alguma loja daquelas. Vejam a forma de olhar deles, dos vendedores. Percebe-se logo o preconceito.
Logo eles, pobres também, explorados pela burguesia. Ficam tão embevecidos em trabalhar ali que não enxergam que são meras peças numa grande máquina, e também uns prisioneiros. Mas permanecem  na ilusão que são iguais com a elite que arrota por ali.
Quem trabalha num lugar desses não têm vida, não podem estudar à noite, não fazem um curso técnico, nem faculdade, só trabalho, pois para isso o sistema preparou eles, dando cursos de telemarketing, de escritório, de inglês básico, de cabeleireiro, de vendas, de cozinheiro, atendente, recepcionistas... Tudo de modo que eles não alcancem o nível superior, pois é assim que formam trabalhadores no Brasil desde o começo do século 20. Chegar a um nível superior, so para elite. Pobres são meros trabalhadores, e é para isso que devem ser preparados.
Os trabalhadores pobres devem ganhar o prêmio de serem meros coadjuvantes dos ricos, que os ajudam a terem seus carrões, seus luxos desenfreados. É incutidos em suas mentes que eles são trabalhadores de qualidade, os melhores, os mais bonitos os únicos que podem ser vistos como um quase igual com a burguesia, pelo menos na aparência. O shopping é uma mera ilusão, é como uma droga, e quem vai ali foi "programado" para comprar, comprar, comprar...

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